“Abelardo Santos” será referência em fissura labiopalatal
O novo Hospital Regional Abelardo Santos abrigará
o Centro de Referência Estadual em Pacientes de Fissura Labiopalatal, e uma
Câmara Técnica será implantada para discutir o protocolo de atendimento a
esse tipo de paciente no Pará. As duas propostas foram apresentadas pela
Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) na Sessão Especial sobre o
atendimento a pessoas com fissura labiopalatal, realizada nesta
segunda-feira (13), às 10 h, no auditório João Batista, da Assembleia
Legislativa do Pará (Alepa).
A Sessão Especial foi proposta pelo deputado
estadual e presidente da Comissão de Saúde da Alepa, Jaques Neves, atendendo
a uma solicitação da Associação Sorrisos Largos, composta principalmente por
mães e pais de crianças com fissura labiopalatal. Os objetivos da sessão
foram debater a situação do atendimento a esses pacientes no Estado e
promover a aproximação entre suas famílias e as instituições públicas, para
que juntos busquem soluções para as dificuldades de acesso aos serviços de
diagnóstico e tratamento no Pará.
As fissuras labiopalatais, conhecidas como lábios
leporinos ou fendas palatinas, são malformações congênitas frequentes, que
acometem o crânio e a face. A fissura pode ser no céu da boca (palato), com
uma ou duas falhas no lábio. Essas malformações alteram a anatomia normal,
podendo interferir na fala, na audição, na deglutição, na respiração e na
formação da arcada dentária. A estimativa é de um caso para cada 650 nascidos
vivos.
O deputado Jaques Neves destacou a importância de
haver notificação compulsória dos casos e da criação de uma data dedicada a
esses pacientes, e disse esperar que esta segunda-feira fosse um dia de
engajamento de todos.
Luta diária -
A presidente da Associação Sorrisos Largos, Tatiana Mota Reis, fez um relato
emocionado sobre as dificuldades enfrentadas pelos pacientes com lábios
leporinos, destacando a luta diária das mães em busca de atendimento
especializado e multidisciplinar. Entre as instituições que oferecem esse
tratamento está o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais
(HRAC/Centrinho), da Universidade de São Paulo (USP), em Bauru, interior de
São Paulo (SP). Também foram ouvidos os relatos das mães de pacientes Rosa
Leni da Silva e Aida Corrêa.
Êxito - A secretária adjunta da
Sespa, Heloísa Guimarães, parabenizou o deputado Jaques Neves por promover
esse debate e buscar melhorias no atendimento oferecido no Estado. Ela propôs
a criação de uma Câmara Técnica em Fissura Labiopalatal, considerando o êxito
da experiência da Sespa com outras Câmaras Técnicas, como as de Alongamento
Ósseo e de Fibrose Cística. “As crianças têm dificuldades, e as crianças de
fibrose cística também as tinham até poucos anos atrás, quando a gente
constituiu a Câmara Técnica, e a situação está muito amenizada. Precisamos
sair daqui com essa Câmara Técnica já bem encaminhada. A partir de hoje,
Parlamento com Executivo e sociedade civil certamente vão dar um novo modelo
a isso”, afirmou Heloísa Guimarães.
No caso do alongamento ósseo, a secretária
adjunta disse que o trabalho resultou na criação da referência no Hospital
Galileu para atender pacientes, a maioria vítimas de acidentes de
motocicleta, oferecendo cirurgia de alongamento ósseo e reabilitação, e
permitindo que o paciente volte a sua vida normal sem risco de infecção.
Heloísa Guimarães citou ainda algumas
providências tomadas pela Sespa para amenizar a situação dos pacientes com
fissura labiopalatal, como a realização das cirurgias no Hospital Oncológico
Infantil Octávio Lobo. “Porque havia salas de cirurgias mais disponíveis, e a
gente podia fazer um número maior de procedimentos cirúrgicos. Tanto que
zerou a fila da demanda reprimida aqui na Região Metropolitana de Belém.
Também aplicamos técnicas mais modernas e diminuímos o tempo cirúrgico, uma
vez que cada cirurgia é uma agressão para a família, um partir de corações no
momento de entregar seu filho à equipe que vai operá-lo, o que é muito
dolorido”, explicou a secretária adjunta.
O médico Helio Franco confirmou a primeira
reunião da Câmara Técnica para a próxima quinta-feira (16), às 14h30, na sede
da Sespa, quando serão definidos seus integrantes, e assim publicada pelo
secretário de Estado de Saúde Pública, Vitor Mateus, a portaria oficializando
sua criação.
Ele também informou que o Centro de Referência
Estadual em Fissura Labiopalatal será instalado no novo Hospital Abelardo
Santos, no Distrito de Icoaraci. “Passei quatro anos na Secretaria (Sespa)
tentando implantar esse serviço no Bettina (Hospital Bettina Ferro, na
Universidade Federal do Pará), mas não prosperou. Porém, consegui incluí-lo
no projeto do Abelardo Santos, que era também para começar a funcionar este
ano, mas não foi possível em função da crise econômica”, informou Helio
Franco, assessor da Sespa, enfatizando que 80% do custo de saúde do Pará são
bancados pelo Tesouro estadual.
Mobilização -
“O governo federal entra com 20% só para a gente bancar 19 hospitais, o
Hemopa (Fundação Hemopa), o Lacen (Laboratório Central) e 13 Regionais de Saúde.
E sabem quanto é o recurso para isso? R$ 0,70 per capita ao dia”, informou
Helio Franco. Ele disse que no Pará nascem por ano 142 mil crianças, e dessas
1.840 têm malformações congênitas ou doenças genéticas. Algumas não têm cura,
só controle, como é o caso da hemofilia. “Daí a necessidade de congregar
Legislativo, Executivo e sociedade civil para cuidar disso”, frisou o
representante da Sespa.
Segundo ele, a sociedade paraense deve se
mobilizar para garantir que o Centro de Referência Estadual funcione de fato
no Hospital Abelardo Santos. Helio Franco também considera importante haver
imediata notificação compulsória dos casos de nascimentos de bebês com lábio
leporino, porque 98 dos partos ocorrem em maternidades. Ele disse que isso já
está previsto no Plano Estadual de Saúde e, na Câmara Técnica, é preciso
discutir como será o Centro de Notificação, para que o paciente possa iniciar
o tratamento mesmo ainda com os serviços descentralizados, até que o Centro
de Referência Estadual possa funcionar efetivamente.
Helio Franco informou ainda que, em 2014, o
governo do Estado gastou R$ 210 milhões com trauma no trânsito, um problema
de saúde que pode ser evitado. “Então, com algo absolutamente evitável a
gente gasta um dinheirão e não tem recurso para implementar serviços para
casos que não dependem da vontade das pessoas”, reiterou.
A Sessão Especial também contou com a presença de
representantes de diversas instituições: Luiz Cláudio Chaves, do Hospital
Ophir Loyola; Eduardo Sizo, do Sindicato dos Médicos (Sindmepa); Carlos
Laércio Affonso, do Conselho Regional de Odontologia (CRO-PA); Danielle
Rocha, do Conselho Regional de Enfermagem (Coren); Ivana Souza, do Hospital
João de Barros Barreto e do Hospital Bettina Ferro de Souza; Amauri Cunha, do
Colegiado de Secretários Municipais de Saúde (Cosems); Ana Lydia Cabeça, do
Hospital de Clínicas Gaspar Vianna; Terezinha da Silva, da Universidade do
Estado do Pará (Uepa), e Deise Bemerguy, da Secretaria Municipal de Saúde de
Belém (Sesma).
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Roberta Vilanova
Agência
Pará
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