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2/11/2014

RAY CUNHA



Uma semana em Manaus



BRASÍLIA – Estive durante uma semana, em Manaus, na companhia do jornalista Raimundo Holanda, que criou e comanda um fenômeno da mídia, o Portal do Holanda, terceiro mais lido do país e primeiro da Amazônia. Para se ter uma ideia, em dezembro passado foram registradas 7 milhões de visitas, e há picos de mais de 160 mil visitantes online. O portal é auditado pelo Instituto de Verificação de Circulação, o IVC, a mais respeitada instituição de auditoria de mídia da Ibero-América.

Conheci Raimundo Holanda em 1975. Ele, Isaías Oliveira e eu somos da mesma geração, e começamos juntos no jornalismo na extinta A Notícia, de Andrade Neto e comandada por Bianor Garcia. Tínhamos 21 anos. Antes, passei rapidamente pelo Jornal do Commercio. Em A Notícia criei a coluna semanal No Mundo da Arte. Nessa mesma época, comecei a frequentar o Clube da Madrugada, acolhido principalmente por Jorge Tufic, Aluísio Sampaio, Anthístenes Pinto, Luiz Bacellar e Fábio Lucena. Também me tornei amigo do cineasta José Pereira Gaspar, do líder negro Nestor José Soeiro do Nascimento e da jornalista Hermengarda Junqueira.
Vivi em Manaus, de 1975 a 1977, intensamente, como repórter e amante da cidade; depois voltei lá algumas vezes, a última em 2005, para cobrir a Feira Internacional da Amazônia para o site brasiliense ABC Politiko, no qual eu produzia então a coluna Enfoque Amazônico. Todas as cidades são extraordinárias, todas, em maior ou menor grau. Manaus é fantástica em escala. Incrustada no coração da maior floresta tropical do planeta e Mundo das Águas, feérica, é a capital de um continente saído do computador de Márcio Souza, da lente de Werner Herzog, do Portal do Holanda, do olhar atento do repórter Isaías Oliveira.
Banhada pelo rio Negro, maior afluente da margem esquerda do Amazonas, que lá recebe o nome de Solimões, Manaus conta com o maior porto flutuante do mundo, recebendo transatlânticos no coração da Hileia. O Mercado Adolpho Lisboa, próximo ao porto, é um convite irrecusável pelo mundo mágico das frutas, ervas e aromas do Trópico Úmido. E o Tropical Hotel, a praia da Ponta Negra, garantem que estamos em outro planeta, Manaus dentro de Manaus.
Como articulista de arte, eu tinha passe livre no Teatro Amazonas, e uma das minhas incursões favoritas era explorar os labirintos de um dos teatros mais deslumbrantes do Brasil, projetado por arquitetos lusitanos e italianos e transportado do Velho Mundo para o Inferno Verde. Lá, ouvi vozes imortais, voei com bailarinos alados e conheci a dramaturgia amazônica de Márcio Souza. Ouvirei Carmen Monarcha no palco do Teatro Amazonas? Ah! Lembro-me que ouvi, ali, Fafá de Belém, logo que ela começou sua carreira perene, um furacão sensual acendendo a imaginação até da senilidade. Fui vê-la após entrevistá-la para A Notícia. Jamais esqueci o mar do seu riso.
Manaus é o principal centro financeiro, corporativo e econômico da Região Norte. Trata-se de uma das cidades brasileiras mais conhecidas no planeta, especialmente pelo seu potencial turístico, décimo maior destino de turistas no país. Distante 3.490 quilômetros de Brasília, pertence a outro Brasil, mais voltado para o Hemisfério Norte. Brasília vai à Amazônia para colonizá-la, explorá-la, com megaprojetos como Tucuruí, enquanto mais da metade dos 144 municípios do Pará não conta com energia firme; como a Icomi, que deixou uma chaga no Amapá; como a Vale, que transporta o ferro paraense para a China, deixando para os paraenses um buraco; como a Albras/Alunorte, que fabrica lingotes de alumina com energia de Tucuruí para alimentar a indústria japonesa. Royalties?
Fundada em 1669 pelos lusitanos, Manaus foi elevada à categoria de cidade em 24 de outubro de 1848, com o nome de Cidade da Barra do Rio Negro, e, em 4 de setembro de 1856, voltou a seu nome natural, em homenagem à nação dos manaos. Hoje, é a cidade mais populosa da Amazônia, com 1.982.179 habitantes (IBGE/2013), a sétima do Brasil e a centésima trigésima primeira do mundo. Sexta cidade mais rica do Brasil, seu principal motor econômico é o Polo Industrial de Manaus, respondendo por 1,4% da economia do país. É uma das doze subsedes brasileiras da Copa do Mundo de 2014, o que nem Belém do Pará, Portal da Amazônia, conseguiu.
Contudo, Manaus é muito mais do que isso, porém é necessário olho clínico para penetrar no vale vertiginoso dos seus segredos, nos seus cheiros de tucumã, tucupi, jambu, maresia, e decifrar as mensagens do espilantol.

     

 RAY CUNHA – Escritor e Jornalista baseado em Brasília-DF, Brasil

      

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