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2/28/2014




RAY CUNHA recebe seus amigos e leitores dia 12 de março no sebinho, na 406 norte

BRASÍLIA – Na Boca do Jacaré-Açu – A Amazônia Como Ela É (Ler Editora, Brasília, 153 páginas, R$ 25) será lançado por Ray Cunha, escritor amazônida radicado em Brasília, no dia 12 de março, uma quarta-feira, a partir das 18h30, no Sebinho, complexo de livraria, cafeteria e restaurante, na 406 Norte, Bloco C, Loja 30/72, com apoio da Preserve Amazônia e da Proativa Comunicação. Será servido coquetel.

O livro já está à venda no site: www.lereditora.com.br. Livreiros devem fazer pedidos pelo e-mail: atendimento@lereditora.com.br, ou pelo telefone: (55-61) 3362-0008, ou ainda diretamente na Ler Editora, no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Quadra 3, Lote 49, Bloco B, Loja 59  Brasília/DF – CEP 70610-430.

Na Boca do Jacaré-Açu enfeixa 14 histórias curtas, ambientadas em Belém, que perpassa todos os contos e acaba sendo personagem subjacente, e a quem o autor dedica o livro. Algumas histórias têm sequências na maior feira livre da Ibero-América, o Ver-O-Peso, que aparece em fotomontagem na capa desta edição, bem como no Marajó, “maior ilha flúvio-marítima do planeta, ao sul do estuário do rio Amazonas, o maior do mundo, único com estuário e delta, e que despeja por segundo pelo menos 200 mil metros cúbicos de água e húmus no Atlântico, tornando as costas do Amapá e do Pará as mais piscosas da Terra; apesar disso, a Amazônia Azul setentrional é a menos estudada pela academia e a mais mal guardada pelo estado brasileiro” – comenta Ray Cunha.

“O conto que dá título ao livro, Na Boca do Jacaré-Açu, é o mergulho suicida do arqueólogo Agostinho Castro nos abismos do Mundo das Águas, a confluência dos rios Amazonas, Pará, Tocantins e Guamá, e o oceano Atlântico, abocanhando o arquipélago de Marajó, mais de mil ilhas, a maior delas do tamanho de Portugal. Jacaré-açu é o grande réptil amazônico, só perdendo para a sucuri, e que atinge mais de 6 metros de comprimento e meia tonelada de peso; no conto Na Boca do Jacaré-Açu, representa a morte, na pessoa do pai de Agostinho, Castro e Castro” – adianta o escritor.

Na Boca do Jacaré-Açu é o segundo volume de contos que se encaixam no contexto do subtítulo do livro: A Amazônia Como Ela É. No primeiro volume, Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos (edição do autor, Brasília, 116 páginas), a Amazônia é também a base da ficção de Ray Cunha; tanto a Hileia quanto as metrópoles da selva estão presentes nas histórias. “Isto é a Amazônia” – comentou, ao ler Trópico Úmido, o coronel Gelio Fregapani, um dos intelectuais que mais conhecem geopolítica do Trópico Úmido, mentor da Doutrina Brasileira de Guerra na Selva, fundador e comandante do Centro de Instrução de Guerra na Selva e autor, entre outros títulos, de Amazônia - A Grande Cobiça Internacional (Thesaurus Editora, Brasília, 2000, 166 páginas).

“Sou caboco de Macapá, cidade da Amazônia Caribenha que tremeluz na Linha Imaginária do Equador e se debruça no estuário do Amazonas, a cerca de 200 quilômetros da boca do maior rio do planeta, quando o Mar Doce penetra fundamente o Atlântico, fertilizando-o até o Caribe” – define-se Ray Cunha, que mora em Brasília, onde é correspondente do Portal do Holanda (o mais lido da Amazônia e vigésimo do país, segundo o último ranking entre os sites auditados pelo Instituto de Verificação de Circulação – IVC) e estuda Medicina Tradicional Chinesa na Escola Nacional de Acupuntura (ENAc).

TRECHO DO CONTO NA BOCA DO JACARÉ-AÇU, QUE DÁ TÍTULO AO LIVRO 

A madrugada começara. Foi ao Mafioso, ali perto. Henrique estava lá.      O bar, por fora, era bastante discreto; por dentro, enfumaçado e mergulhado na penumbra. Ouvia-se boa música ali, numa altura agradável, que não incomodava a quem quisesse conversar. Além do mais, Chico, o barman, preparava grandes drinks. Henrique era escritor. Já era rico antes de se tornar escritor. Tinha a idade de Agostinho e eram amigos de infância. Henrique estava na companhia de uma jornalista, atraente, chamada Soraya.

– E então? – perguntou a Agostinho, quando o viu se aproximar, apresentando-o à jornalista.

– Estou com insônia – disse Agostinho. E para o barman: – Um Jonnie Walker, Chico. – Voltou-se para Henrique e Soraya. – Quero que passes o réveillon conosco, no Marajó. Antônia e Alexandra virão. Tu és também convidada – disse à Soraya. Sorveu um grande primeiro gole de Jonnie Walker.

– Vamos beber champagne em antecipação ao Ano Novo? – Soraya propôs.

Chico providenciou uma garrafa de George Albert, que já estava num balde com gelo, e pôs logo outra garrafa no balde.

– Como vão as coisas? – Agostinho perguntou, continuando a beber Jonnie Walker.

– Já comecei a redigir o discurso de agradecimento do Prêmio Nobel – brincou Henrique, que só publicara um romance ainda, com o prosaico título “Tim-Tim!”, e estava pelejando para terminar outro.

– Bem, e como é esse discurso? – disse Agostinho. – Tu poderias fazer o discurso aqui para a gente.

Soraya acendeu um cigarro. Henrique pigarreou.

– Senhoras e senhores – começou ele. – Minhas palavras se dividem em três partes. A primeira é sobre o ofício de escrever. A segunda, sobre os políticos, que infeccionam meu país. A terceira, são agradecimentos. – Fez uma pausa. Agostinho e Soraya aplaudiram. – Ganhei o Prêmio Nobel de Literatura por pura sorte. Uma série de circunstâncias me levou a ele. Até uns cinco anos atrás não estava certo de que fosse escritor. Nasci em berço de ouro e nunca fui estimulado a ganhar dinheiro para minha sobrevivência. Entretanto, obedecendo a uma ordem soberana, já iniciara, na solidão do meu quarto, a jornada literária que o destino me reservou – Soraya tomou um grande sorvo de champagne. – Descobri que não poderia viver sem escrever. Seria infeliz. Mas estava situado numa colina de prazeres. Faltava entregar-me ao sacerdócio da criação literária como o objeto do sacrifício submete-se ao carrasco. Tinha de pôr minha cabeça no cepo. Um escritor classe A vive em disciplina implacável. Não faz nada que possa prejudicar as horas sagradas do ofício de escrever. É feliz naquelas horas. Trabalha com disciplina e resignadamente. É feliz assim. Seria infeliz se fosse diferente. – Parou um pouco para tomar um gole.

– Isso está me cheirando a Faulkner – disse Agostinho, que lera uma longa entrevista que Faulkner concedera aos repórteres da The Paris Review, publicada num volume intitulado Escritores em Ação, coordenado e prefaciado por Malcolm Cowley.

– Todos os escritores classe A pensam da mesma forma – disse Henrique, em tom de brincadeira e voltando ao discurso. – Somente os gênios não precisam submeter-se à disciplina, porque prescindem dela. Tudo o que fazem, no campo da sua genialidade, é intenso. Se são escritores, escrevem compulsivamente até exaurirem suas forças. Mas esses semideuses são poucos. Em segundo plano vêm os escritores classe A, que conseguem ser tão bons como os semideuses, mas com muito esforço, disciplina e trabalho. O que é trabalho para um escritor classe A é puro lazer para o semideus e tortura para o escritor medíocre. O escritor medíocre é aquele que se sente realizado com o primeiro livro que escreve, e vive da glória de ter escrito esse livro. – Agostinho os serviu de champagne. – O escritor classe A esconde-se algumas horas por dia – continuou Henrique. – Vai refugiar-se na solidão do seu esconderijo. Tem hora marcada com seu culto. É o padre que oficia a missa. Escreve com fé. Nada o abala. E tudo o que acontece ao seu redor alimenta-o para novo encontro com seu deus. – Soraya e Agostinho bateram palmas.          – Cumprida sua tarefa diária, realizado seu trabalho, se for um escritor pobre, partirá para ganhar seu sustento e o de sua família, se a tiver; se for rico, irá divertir-se. E tudo o enche de prazer. Viajar, ver peixes, frutas, amar, beber, comer, bater papo, ler, ouvir, ver as telas que ama, reler os livros que aprendeu a amar desde a infância, ouvir a música de Mozart, ver o sorriso de uma criança, emocionar-se, beber às 6 horas da tarde, ver mulheres absolutamente lindas, sentir cheiros, dormir, ouvir a chuva...

– Estou interessada na parte que fala dos políticos – disse Soraya, que era setorizada no Palácio Lauro Sodré.

– Os políticos que infestam meu país estão infeccionando, necrosando tudo onde passam a mão. Um dia, quando tentarem necrosar nervos expostos, vai espirrar carnicão. Aí será tarde para esses urubus. No meu país, os políticos são vermes expelidos para uma grande privada, onde se locupletam numa bacanal.

– Nossa, isso está ficando um discurso escatológico – disse Soraya.

– Vocês acham? – disse Henrique.

– Bem, acho que o discurso ficou um pouco pesado nessa parte – disse Agostinho.

– Acho que vou tirar a parte dos políticos... – ponderou Henrique.

– A primeira parte está boa – disse Agostinho.

– Fiquei emocionada – falou Soraya.

– Bem, ainda não pensei na parte dos agradecimentos – disse Henrique.

MARCELO LARROYED
•Exclusivo para o Jornal do Feio
  

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