Foto: Iasmim Cunha
RAY CUNHA, em sessão de autógrafos de O Casulo Exposto e Trópico Úmido - Três Contos
Amazônicos, no Monardo Gastronomia e Cultura
BRASÍLIA – A sede do Banco Central é o edifício mais alto de Brasília, um caixote negro de 101 metros de altura, com 26 pavimentos, sete abaixo do solo. Pode ser visto à distância, como uma referência ao coração da cidade, mais a noroeste, um bolsão abarcando a Rodoviária do Plano Piloto, o Conjunto Nacional e os setores Comercial e Hoteleiro Sul e Norte. O Monardo Gastronomia e Cultura é um restaurante e cafeteria que fica atrás do Banco Central, na Rua 201 Sul, Bloco B, Loja 9, quase defronte ao Piantella. Estive lá, quinta-feira 21, autografando O Casulo Exposto (LGE Editora/Ler Editora, Brasília, 153 páginas) e Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos (edição do autor, Brasília, 116 páginas).
Nós,
escritores, somos como os pugilistas: da feita que subimos ao ringue estamos
absolutamente sozinhos. Nada pode vir em nosso auxílio. Nada. Temos apenas que
nos concentrar no filão que se apresenta, de onde podemos retirar pedras
preciosas ou apenas cascalho, dependendo da luz ou do nevoeiro onde caminha
nossa alma. Os escritores pouco conhecidos sentem-se, nas sessões de
autógrafos, ainda mais sós. Estamos ali, tentando vender universos dos quais
ficamos grávidos durante, às vezes, quase toda a nossa vida, expostos como
animais no zoológico.
Mas
do meu posto, duas mesinhas nas quais meu caro amigo Antonello Monardo me
instalou, pude acompanhar a agonia da tarde, aquele momento de transição
imperceptível, quando flocos negros começam a cair e a se acamar, como neve,
transparente e negra, flutuando como folhas mortas, anunciando o navio da
noite.
Acompanhei
também, do meu posto, o passa-passa das mulheres na calçada; algumas são tão
lindas que causam sofrimento, porque são inacessíveis como as que só vemos nos
grandes aeroportos, de madrugada, partindo para um país distante. Por isso,
nunca estamos sós, pois há sempre rosas nuas nas esquinas do mundo. Temos
apenas que desenvolver as antenas do éter para sentir a maresia, mesmo que o
mar seja inacessível.
Simona
Forcisi chegou de repente, iluminando tudo com seus olhos de esmeraldas,
abraçou-me, redentora, e sentou-se à minha frente. Ela já conhece O
Casulo Exposto e pediu-me para autografar Trópico Úmido – Três
Contos Amazônicos. Simona, italiana de Turim, trabalha na Embaixada da
Itália, em Brasília, onde se graduou em Literatura Brasileira. Conhecedora
atenta dos idiomas de Giuseppe Tomasi di Lampedusa e Graciliano Ramos, pretende
mergulhar na Amazônia do Trópico Úmido e traduzi-lo.
Em
dezembro, a Ler Editora lançará novo livro meu, Na Boca do Jacaré-Açu –
A Amazônia Como Ela É. Provavelmente, além dos três contos doTrópico
Úmido – Inferno Verde, Latitude Zero e A
Grande Farra –, Na Boca do Jacaré-Açu entre também na
edição italiana.
Quando
Simona se foi, o ar ficou prenhe de clorofila. Minha filha, Iasmim Cunha, me
deu todo o apoio, fotografou-me e bateu papo com seu velho pai. E fomos pegar
minha gata, Josiane, no Hospital Sírio Libanês, onde ela, como psicóloga,
esparge luz. Ainda era cedo e paramos para comer sushi. Depois, retornamos, nós
três para casa.
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♦ RAY
CUNHA – Escritor e Jornalista amapaense - e paraense de coração - baseado em Brasília-DF, Brasil
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