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4/29/2013






ANTÔNIO TAVERNARD presente





Atendo, com muito carinho, uma solicitação da leitora Janette Alvarenga Petrin, filha de Icoaraci, residente na Grecia que, através de um carinhoso e-mail, pede dos mais belos poemas de  Antônio de Nazareth Frazão Tavernard, ou simplesmente Antônio Tavernard – ou seja, SIMILITUDES

 Amiga de longe, anote : Antônio Ta vernard nasceu em outubro, o mês do Círio de Nazaré, e por isso foi batizado com o nome de Antônio de Nazareth Frazão Tavernardfalecido precocemente aos 27 anos de idade, na plenitude de sua capacidade intelectiva e produtiva no dia 02 de maio de 1936 , há 77 anos, vítima da hanseníase, incurável nos tempos do poeta.
De acordo com os críticos, Tavernard foi o mais corajoso poeta que Belém já teve, e é também o mais saudoso porque ninguém mais será feliz diante de tão temerário sofrimento, esse sofrimento contido pela força e pela beleza de sua poesia.
Meu confrade e amigo Carlos Correia Santos – um dos maiores, senão o maior estudioso de nosso ilustre conterrâneo – tem carradas de razões quando sempre afirma: "Se AntonioTavernard tivesse nascido numa Lisboa daquela época, ele era muito mais do que um Fernando Pessoa hoje em dia. Eu cometo a loucura de dizer isso, porque a poesia do Tavernard, seja no poema, no teatro, no conto, fala com coisas nossas que são atemporais".
O poema  seguir  - dos muitos produzidos por Tavernard - retrata o poeta descrevendo as beleza do mar, da janela de sua casa (Siqueira Mendes, 585, 1ª Rua de Icoaraci, que hoje não, mais existe devido ao abandono e a incompetênciados governo municipal eestadual) no início da sua juventude, com frases fortes que mexem com a gente, principalmente a última estrofe:

SIMILITUDES

Nasci em frente ao mar.
Meu primeiro vagido
misturou-se ao fragor do seu bramido

Tenho a vida do mar!
Tenho a alma do mar!

A mesma inquietude indefinível,
que nele é onda, e é em mim anseio,
faz-nos tremer, faz-nos fremir, faz-nos vibrar.
Às vezes, creio
que da minha loucura do impossível
sofre também o mar.
Tenho a sua amplidão iluminada
- o meu amor; e seu velário de brumas
- minha mágoa.
Ruge a tormenta... e o que ele faz com a frágua:
embates colossais,
faço com a minha fé petrificada...
té que tudo se extingue em turbilhões de espumas
e de lágrimas... Destinos abismais!...

Guarda em si tempestades que estraçoam,
Cóleras formidáveis em mim guardo...
Sobre o meu pensamento, ideias voam,
voam alciões sobre o seu dorso pardo...

Meu gigantesco irmão,
Senhor do cataclismo,
se tens, por coração, um negro abismo,
eu tenho, por abismo, um coração.
Dentro de ti, quantos naufrágios, quantos,
de naves rotas pelos vendavais?!...
E, dentro de mim, sob aguaçais de prantos,
quantos naufrágios, quantos, quantos,
de sonhos, de ilusões e de ideais?!...

Faço trovas a alguém que não posso beijar
tal como tu, na angústia de querê-las
sem as poder tocar,
fazes, nas noites brancas de luar,
serenatas inúteis às estrelas...

Sou bem fraco, porém, e tu és forte...
Nada te vencerá, há de vencer-me a morte...
Embora!... Mar morto, água dormida
que por mais nada nem de leve ondeia,
hei de deixar meus versos pela vida,
como tu deixas âmbar pela areia!...
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