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9/19/2012






É, Walter... um dia a gente se encontra!...


Ultimamente este espaço tem sido usado como panegírico para alguém que se foi. Mais uma vez peço permissão aos que seguem para mais um.


Dessa feita é para o jornalista, relações públicas e psicólogo – um dos títulos universitários – José Walter Guimarães Rolim, que voltou para o Criador no inicia da madrugada de terça-feira/18.
Walter Guimarães não era somente o colunista mais antigo e lido de Belém. Era acima de tudo gente. Muito gente.
A página que o Diário do Pará publicou hoje, com material de Ismael Machado e de Luiz Flávio e as manifestações nela inseridas, são tudo verdadeiro.
Eu assino em baixo.
Walter Guimaraes, era o amigo, o irmão, o parceiro, o colega, o confrade, o companheiro, gente boa em todas as horas.Todo tempo de bom humor e o incorrigível gozador. Para tudo tinha piada, uma anedota. Para ele não tinha tempo ruim.
Quando o Diário do Pará resolveu deslocá-lo da última página do caderno “Você”, para alojá-lo nas últimas páginas do tabloide "Tudo de Bom", e publicar a sua coluna apenas cinco dias por semana, eu o encontrei na porta da RBA.
Foi aquela festa... mais proporcionada por ele por ele do que por mim: “Fala pé redondo, homem da vila que está mais para tristeza do que pra sorriso... quais são as novidades?" Retruquei: "Eu é que pergunto: O que houve? A sua coluna não é mais diária?" Ele, com aquela caraterística de gozador, respondeu às gaergalhadas: “Meu filho, essa turma pensa que estou gagá, não dou mais nada... estão muito enganados: vou mostrar que sou duro de queda. Que ainda sou bom... esses meninos tem muito que aprender comigo.. estou agora no Tudo de Bom, um tabloide-joia que foi criado e voltado para o publico jovem... olha, eu aqui... ainda queimo óleo 30" - e deu uma rodada com se ensaiasse uma dança – "mas foi bom, vou trabalhar menos e ganhei página dupla”.. em seguida subiu para a redação.

Walter no dia do meu aniversário, junho/10, foi muito gentil: registrou o evento com uma foto. Foi muito carinhoso com a legenda. Ao agradecer-lhe pelo telefone, ele apenas me disse: “...não foi nada, vá mandando”.

Conheci o Walter ainda jovem.

Ele morava com a família na Vila Importadora, um conjunto de residências ao lado da Igreja de São Raimundo Nonato, com entrada pela Soares Carneiro e pela Rua Curuçá.
Ele sempre gostou de comunicação.
A Rádio Marajoara – ZYE-20, emissora associada de Belém do Pará – com o apoio do GuaraSuco, um refrigerante que marcou época em Belém, transmitia todas as quintas-feiras, às 18 h, diretamente da Capela de Nossa Senhora das Graças – Av. Senador Lemos, esquina com a Travessa Soares Carneiro, ao lado do antigo Dispensário de São Vicente de Paulo – a novena da Medalha Milagrosa, também conhecida como “novena dos doentes”, que terminava com o início transmissão da Voz do Brasil.
Quem fazia as apresentações era o locutor Emílio Sebastião, mais por devoção e menos por profissão.
Nesse ínterim Walter fez amizade com o Emílio Sebastião e o ajudava nos trabalhos da transmissão, carregando, deslocando equipamento, checando a linha telefônica – que ainda era explorada pela Parah Telefone – e auxiliando o técnico de som.
Quando o Emílio Sebastião foi para a Faculdade de Medicina – ele se tornou um grande pediatra, acredito que ainda é, pois nunca mais o vi... espero que ainda esteja vivo – às vezes não poderia comandar a transmissão da novena, indicou indicou à direção da Marajoara para cuidar dessa tarefa, ninguém senão Walter Guimarães que, inclusive, sabia de cor o texto da mensagem publicitária do GuaraSuco, lida no início e no final da transmissão.
Algum tempo depois, a novena perdeu o patrocínio do GuaraSuco, mas continuou sendo transmitida, com o Walter Guimarães no comando. até a desistência da emissora
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Em determinada ocasião, o nosso grande desaparecido enveredou pelo ramo de imóveis. Ele era bom vendedor. Mas o seu destino natural seria o jornalismo.
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Quando o empresário Armando Carneiro nos anos 60 criou o Jornal do Dia – uma cópia perfeita da Última Hora, do Rio, no formato, na diagramação e na côr, inclusive com a presença de todos os colunistas do vespertino carioca, onde estagiei por algum tempo, antes de fechar – reuniu uma pá de gente boa: Cláudio de Sá Leal, na secretaria de redação; Guaracy de Brito, na coluna Social; Rafael Costa, Cinema, junto com Pedro Veriano Direito Álvares; Álvaro Jorge, José Gorayeb e tantos outros. Sabe quem foi convidado pessoalmente por Armando Carneiro: Walter Guimarães.Ali WG se realizou.
A Caetana Ferreira da Silva, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Pará (SINJOR.PA.) informou-me durante o velório, que o Walter Guimarães foi um dos esteios do Jornal do Dia, por sua sagacidade, inteligência e talento. E foi ela quem assinou a sua Carteira de Trabalho.
Depois do Jornal do Dia, Walter Guimarães passou por vários veículos (rádios e tv) inclusive O Liberal; após o que foi para Diário do Pará onde permaneceu por 24 anos.

Um detalhe interessante que eu gostaria de acrescentar nesta crônica-depoimento, envolvendo o Walter Guimarães.

Eu estava na Folha do Norte – onde permaneci quase oito anos, vindo do Flash, - um semanário que circilou em Belém por quase 20 anos - escrevia uma coluna de meia página que começou pequeninha e depois se expandiu: Icoaraci dia a dia.
Nessas alturas dos acontecimentos, o empresário Romulo Maiorana que se projetou com as Lojas RM e um magazine, o Maison Regina e tornou-se colunista da Folha, resolveu adquirir O Liberal que estava ruim a ponto não mais circular.
O jornal ganhou um novo tempo. Impresso numa velha rotoplana que produzia apenas dois cadernos de oito paginas em preto e tempo, em pouco tempo ganhou nova roupagem: passou a ser impresso em offset numa moderna rotativa “Goss Comunity”, “0” km, a mais moderna do mercado, adquirida por RM no Canadá. Inclusive quem acionou a máquina foi o Rominho que era menino na época.
Com o declínio do jornal de Paulo Maranhão – Folha do Norte - que chegou a ser o maior do extremo norte... e isso é verdade – O Liberal sob o comando de RM cresceu. É muito.
A Folha do Norte, devido à desavenças internas, principalmente por questões de família, começou a decair até fechar em definitivo.
Mas antes disso, Romulo Maiorana tratou de levar para o seu jornal profissionais e colunistas da Folha do Norte. Alguns muito inteligentes como, por exemplo, Walmir Botelho d´Oliveira, o bom maracanaense – e atual Diretor Redator-Chefe de O Liberal - que começou como foca e se tornou em pouco tempo um dos maiores repórteres da Amazônia.
Eu, fui um deles.
Numa manhã recebi um telefonema do Malato para – se estivesse interessado – conversar com Romulo Maiorana às oito e meia da manhã, do dia seguinte.
Era uma segunda-feira.
Diante da minha afirmativa Eládio Bastos Ribeiro, o Malato, como era mais conhecido, preveniu-me: "...vem na hora... o italiano é muito cioso em questão de horário".
Fui lá na Rua Santo Antônio. Cheguei às oito horas. Oito e meia fui convidado a ingressar “na sala do homem” que me recebeu com o seu traje característico: camisa polo branca, calça bege, alinhada da cintura aos pés e sapatos mocasim branco e sem meia
Na sala: Malato, Walter Guimarães e Helena Cardoso – que através da taquigrafia – ela era uma gigante na atividade - registrava tudo, sem precisar de gravador que era coisa rara naqueles tempos.
Após as boas vindas e as “recomendações de praxe”, o acerto da pagina de Icoaraci aos domingos,“eu um certo tenho interesse no mercado da vila, já que tenho uma chácará lá perto”. Ele se referia a Romanza, na Rodovia Arthur Bernardes, atual Pratinha 2, em frente a Passagem John Engelhard. Romulo – que era muito objetivo e de pouco papo - pediu ao Walter Guimarães - uma especie de assessor de RM - que preparasse imediatamente a a minha carteirinha do jornal "pois não permito ninguem do jornal sem carteira de identicação".
Walter foi para máquina e em poucos minutos trouxe o documento.
Romulo assinou na hora e tirando os óculos de armação preta e grossa disse olhando diretamente nos meus olhos: “Preste Atenção Feio: estou abrindo uma exceção. Eu não costumo dar carteira d´O Liberal para uma pessoa logo no primeiro encontro; essas coisas deixo para o Departamento do Pessoal, mas como você foi muito recomendado, fizemos uma devassa na sua vida e eu aprovei. Ai está a sua carteira, espero que você possa honrar este documento. Confio no seu taco”.
E pediu ao Walter que me acompanhasse até a porta.

A página de Icoaraci circulou até a minha ida para o Rio de Janeiro.

A carteirinha – uma preciosidade – preparada pelo Walter Guimaraes e assinada por Romulo Maiorana, eu a conservo até hoje.

Finalmente, meu caro Guilherme Augusto - que foi foca do Walter, como disse na matéria do Ismael Machado - pode acreditar no seu amigo: Walter Guimarães, acomodado no seu esquife estava sorrindo, sim.
Feliz por ter cumprido a sua missão neste plano terrestre.

Teria muito coisa para falar do Walter Guimarães, “homem humilde e de fino trato”... “um exemplo para não esquecer”, o menino fofo da professora e escritora Joana Vieira (Blog da Joana) nascida em Capanema e cidadã de Santa Luzia do Pará – olhem a foto ! - meu amigo e fundador como eu da Academia Paraense de Jornalismo... mas repito o que lhe falei à beira da urna funerária, acariciando a sua face esquerda fria, sem o brilho de antanho e com coração em prantos:

É, Walter, meu camarada, um a dia a gente se encontra!...

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