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8/03/2012

RAY CUNHA






Brasília, 

sinônimo 

de tédio






BRASÍLIA, 30 de julho de 2012 - A última semana das férias de julho, a secura do ar e a falta de atrativos turísticos são como um direto no queixo de Brasília. A cidade cai como que nocauteada, desenxabida como mulher sem encantos - nem do corpo, nem da alma. Em algumas instituições de ensino particulares as aulas voltaram e pode-se ouvir o som redentor das crianças, mas é só. As ruas, vias, como aqui são chamadas, estão quase vazias, contestando a cidade projetada para automóveis, porque, além de calçadas serem uma ausência sentida, as poucas que há parecem bombardeadas.
Os brasilienses, especialmente os que só vêm para cá três 
dias por semana, escafederam-se, claro, e todos aqueles que têm bastante dinheiro foram para algum ponto dos 7.367 quilômetros do litoral brasileiro, e os candangos se mandaram para respirar o ar dos seus antepassados e se fortalecer nas suas raízes. Ficaram os brasilienses sem dinheiro para viajar.
Os brasilienses da gema e bem de vida que se educaram em
Brasília e pensam que as cidades são assim adoram o Plano Piloto, os shoppings, a orla do Lago, suas casas, cada qual com pelo menos três carros na garagem, e as telenovelas da Globo. Brasília só voltará ao que é nas terças, quartas e sextas a partir de terça-feira 7, com a volta da fauna que habita o Congresso Nacional.
Ainda nesta semana o Supremo Tribunal Federal dará início, dia 2 de agosto, ao julgamento dos mensaleiros, quadrilheiros acusados do maior roubo da história “destepaiz”. Há um livro, O Chefe, de Ivo Patarra, que faz um levantamento dos bilhões furtados dos bolsos dos brasileiros. Quem será, de fato, o chefe da quadrilha do Mensalão? O que Zé Sarney dos Atos Secretos fez é fichinha na frente do Mensalão.
O início do julgamento do Mensalão já é alguma coisa nesta 
Brasília ainda mais sem graça do que sempre foi, mesmo na época heroica do boa vida Juscelino Kubitschek e do coronel do cerrado Joaquim Roriz. A Ditadura dos Generais (1964-1985) foi a época de ouro a todos que puxavam o saco dos milicos. Quem sobrou dessa gente chora hoje na Praça do Pau Mole, que fica no Conjunto Nacional.
Brasília, equivocadamente a cidade mais moderna do mundo, traz sinais inequívocos, aos 52 anos, de sucateamento e corrupção. Os brasilienses que não têm para onde correr estão acossados. De um lado, no Entorno, a artilharia é a de traficantes e assaltantes, que assassinam como quem mata barata. Do outro lado, na Esplanada dos Ministérios, onde fica a Praça dos Três Poderes, o fogo é o da corrupção, que mata milhares de brasileiros, principalmente crianças, com a brutalidade das hienas, que começam a devorar suas presas ainda na tentativa delas de fugir.
Tentaram banalizar essa brutalidade. Mas ainda vão acabar descobrindo que os mensaleiros estão com o rabo preso com os narcotraficantes das Farc, com o tráfico de drogas e a indústria de drogas e a indústria de carros roubados do Brasil, na Bolívia, e com o ladrão bolivariano.


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RAY CUNHA - Escritor e Jornalista baseado em Brasília - DF, Brasil

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