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6/30/2012

RAY CUNHA




1822, a desmitificação do Brasil

BRASÍLIA, 29 de junho de 2012 – Só vim a compreender a história do Brasil agora, aos 57 anos de idade. Fiz o antigo curso primário no Barão do Rio Branco e o ginasial no Colégio Amapaense, duas das melhores escolas públicas de Macapá, minha cidade natal, quando o Amapá era território federal, durante a Ditadura dos Generais (1964-1985), e seus governantes eram oficiais graduados das Forças Armadas. Os professores que eu conheci, em Macapá, simpatizavam com a botina. A história do Brasil era lecionada burocraticamente. Também os historiadores, até os anos 1990, atinham-se à história oficial, ao ponto de vista dos portugueses, sem analise, muito menos investigação. A frase “Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 22 de abril de 1500” é de uma falta de senso crítico impressionante. Os ibéricos já conheciam o Brasil antes de Cabral.
Nos anos 1990, logo depois da Ditadura dos Generais – que esfacelou a educação pública brasileira, esfacelamento levado ao paroxismo em 10 anos de aparelhamento do Estado pelo PTMDB, ao ponto de o Ministério da Educação publicar livro afirmando que a grafia “Nós vai pescar” é correta -, uma nova leva de historiadores e de editores começou a chegar às livrarias, desmitificando a história do Brasil, por meio da publicação e análise de documentos que procuram, com honestidade, se aproximar da verdade, essa dama fluida, pantanosa, ilusória. Neste século, Laurentino Gomes veio coroar esses historiadores com 1808 e 1822, livros que já venderam mais de 1 milhão de exemplares, não somente no Brasil, mas também em Portugal, o que é sintomático.
Laurentino Gomes é jornalista; foi diretor de redação da maior revista semanal brasileira e uma das maiores do planeta, a prestigiosa Veja, que, aliás, tem sido fundamental para a consolidação da democracia brasileira. Em jornalismo que se aproxima do texto literário e baseado em pesquisa e investigação seriíssimas, Laurentino esmiúça, em 1808, a fuga das garras de Napoleão Bonaparte e chegada ao Rio de Janeiro de Dom João VI, resgatando como as coisas eram.
Quem quiser saber como foi feita a independência do Brasil da bocarra absolutista de Portugal terá que ler 1822 (Editora Nova Fronteira, 2010, 343 páginas), o livro em questão neste artigo, todo ele embasado, como já disse, em rigorosa pesquisa e investigação, e que até agora não sofreu, como 1808, nenhum desmentido de Portugal. Vemos, em 1822, que a independência do Brasil não foi pacífica, como é dado a entender. Foi uma carnificina, numa demonstração de que os brasileiros não suportavam mais os gafanhotos que colonizaram o Brasil.
Os portugueses já foram uma espécie de Estados Unidos, no século 15. Sua Escola de Sagres lembra a Nasa. Era um povo tecnologicamente avançado, que dominou parte da África, da Índia e da América do Sul, como gafanhotos, saqueando tudo, butim com que pagavam proteção à Inglaterra. Ironia: foi a Inglaterra que garantiu a independência do Brasil da bocarra de jacaré lusitano.
Até hoje, portugueses, olham para os brasileiros de cima para baixo, como devem olhar também para os angolanos e moçambicanos. E os brasileiros, colonizados durante 3 séculos, ainda conduzem esse DNA. Os amazônidas, por exemplo, são vistos pelos portugueses como índios, no que essa palavra tem de pejorativo. Com efeito, a Amazônia continua sendo saqueada, como sempre foi, primeiramente pelos gafanhotos lusitanos e depois deles pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
Senão vejamos: Brasília (e o eixo Rio-São Paulo) recebe os dividendos da alumina produzida com a energia de Tucuruí, enviada para o Japão; ganha com o ferro que vai para a China; na época do Rio, ganhou com o manganês do Amapá, o melhor do mundo, agora estocado nos Estados Unidos; com as milhares de carretas cheias de toras de madeira de lei griladas; com o Eldorado, a montanha de ouro que há na Hileia, maior do que o lastro norte-americano.
Pior, fecha os olhos aos piratas que assaltam as águas mais piscosas do planeta, as costas do Amapá; aos aventureiros internacionais que incursionam nas gigantescas reservas indígenas; e à mais nefanda prática dos gafanhotos lusitanos, a qual brasileiros aprenderam rapidamente: a escravidão. Brasília está de costas para a Amazônia. Sempre esteve. De costas, da mesma forma que tapou os ouvidos para os gritos das crianças que moram nas zonas metropolitanas, berros de dor, que não chegam às mansões e às camas macias dos ladrões de colarinho branco. Melhor que a eles chegue chumbo quente.


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RAY CUNHA – Escritor e Jornalista baseado em Brasília-DF, Brasil

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