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4/24/2011

O sermão de Cláudio Barradas


O sermão das Três Horas da Agonia deste ano foi pregado pelo padre, filósofo e ator Cláudio de Souza Barradas. Durante 190 minutos este jovem-idoso-sacerdote nos presenteou com uma lição de vida, filosofia, da Igreja Católica, de Cristo. Filho de Deus.

Na explicação das três últimas palavras, das sete que Cristo disse na Cruz, o nosso Cláudio, visivelmente emocionado, quase que se deixa vencer pela comoção.

Foram justos os aplausos de pé provindos da seleta platéia presente na Capela de Santo Antônio, no centro de Belém.

Cláudio de Souza Barradas, titular da Paróquia de Jesus Ressuscitado - Conjunto Médice I/Marambaia - completou no passado dia 25 de janeiro, dez anos de vida sacerdotal. Acho que vale a pena falar um pouco desse padre. Para tanto, peço – usando o pronome na primeira pessoa - a devida vênia aos leitores.

Desde muito jovem acompanho os passos de Cláudio Barradas. Esse ator consagrado – que empresta o seu nome a um teatro na cidade – com prêmios nacionais e internacionais é um dos principais elementos representativos da arte cênica do Pará – eu o vi pela primeira vez no palco do Teatro da Paz, interpretando o príncipe Omar, da peça Branca de Neves e os Sete Anões, adaptada por Maria Clara Machado, com música e arranjos da professora Maria Luísa Vella Alves – saudosa memória - há mais de 60 anos.

Quando repórter da Folha do Norte, estive várias vezes em casa de Barradas – ele morava na rua Tiradentes, próximo da travessa Piedade – em companhia do falecido poeta e ficcionista Eliston Altmann, que dirigia a página literária da Folha, publicada aos domingos na capa do 2º caderno.

Anos mais tarde, dirigindo a ATESC – Associação Teatro-Escola Santa Cruz, entidade ligada à Paróquia de Santa Cruz (Marco), que funcionava ao lado do prédio do antigo Hospital Juliano Moreira – onde funciona atualmentye a Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Pará/UEPa, - eis que me vejo diante do diretor Cláudio Barradas.

Minha entidade estava participando do planejamento, ensaios, montagem e realização da peça Cristo Total, da inesquecível irmã Benedita Idefelt (OSC), encenada em pleno regime de exceção, por duas vezes, no Estádio Navas Pereira, da Tuna Luso Brasileira, e que reuniu mais de cem mil pessoas – um sucesso total – sob os auspícios do Círculo Operário Belenense, e do inesquecível padre Thiago Way Cláudio, àquela época no Sesi, era o responsável pela direção geral.

Daí que a amizade com esse artista admirável frutificou. Me tornei guru do ator e diretor Cláudio Barradas.

Seminário - Muito antes disso, Cláudio Barradas já havia freqüentado seminário. Ele tinha 13 anos (atualmente tem 78) quando ingressou na antiga casa de formação da Arquidiocese de Belém – Seminário Nossa Senhora da Conceição – levado por D. Alberto Ramos, que à época era apenas um padre diocesano. Após oito anos, no finalzinho do curso de filosofia, Cláudio Barradas deixou o seminário para o desagrado, não apenas de D. Alberto Ramos, do então padre e atualmente Monsenhor Nelson Soares – que se tornou seu amigo e confessor – como de D. Mário de Miranda Villas Boas, que o tinha escolhido para os estudos complementares de Filosofia e Teologia em Roma, na Universidade Gregoriana.Cláudio Barradas pintou, bordou, virou, mexeu; fez Letras Clássicas – inaugurando a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Pará, sonho do professor Antônio Gomes Moreira Jr, falecido no início de 1980.

Foi o primeiro lugar da turma...também...pudera sabia Latim de trás pra frente e de frente pra trás! Em seguida abraçou de corpo e alma o teatro, sendo um dos primeiros alunos da Escola de Teatro da UFPa, posteriormente coordenador do curso e professor.

É meus amigos, mas nem Deus e nem D. Alberto esqueceram do brilhante e irrequieto e irreverente seminarista.

Nas horas vagas, Cláudio ajudava às paróquias. Colaborou em São José de Queluz, quando por lá passou o padre David Sá, atualmente afastado do ministério; São Francisco de Assis (Capuchinhos), participando do antigo Grêmio Bento XV – que revelou, entre outros, Assis Filho, advogado, poeta, escritor e ensaísta, falecido no ano passado; e Sant’Ana, do monsenhor Nelson Brandão Soares, onde aprendeu tudo sobre música, regência etc, além de integrar a Schola Cantorum e, de quebra, fazia teatro na Igreja duas vezes por ano, na Semana Santa e no Natal.

Quando Nelson foi para a catedral, Cláudio Barradas o acompanhou. Tinha tudo a ver. Naquela Igreja ele foi batizado; onde aprendeu o catecismo; recebeu a primeira eucaristia (ou Primeira Comunhão, como se dizia até a pouco tempo); foi “cruzado” e recebeu o sacramento da Crisma de D. Mário. Já aposentado da UFPa. e com o tempo livre, passou a exercer um monte de atividades no Curato da Sé.
Sacerdócio - Um belo domingo de Páscoa, D. Alberto logo após a celebração do Pontifical, ao desfazer-se dos paramentos sacros, com a ajuda de Cláudio, dirigiu um olhar firme e ao mesmo tempo sereno e paternal ao acólito, e perguntou: “Cláudio, você aceita ser ordenado? Já é tempo, não acha? Você começaria de baixo, leitor, diácono e depois viriam as demais funções do presbitério até à Ordem, propriamente dita. Não sou eu quero, é Deus que O chama. A pergunta soou para Cláudio Barradas, segundo as suas próprias palavras, como um “chute no saco” (textuais). Ele não titubeou, em lágrimas disse SIM.

A partir daquele momento tudo mudou na vida desse homem. Deixou de lado a vaidade e os seus muitos títulos mundanos e foi para o Seminário São Pio X, como qualquer um outro postulante ao sacerdócio. Como já tinha praticamente todos os créditos necessários, concluiu a parte que faltava de Filosofia e estudou Teologia.

Fez o tirocínio na Catedral auxiliando (ainda mais) o monsenhor Nelson Soares nas atividades paroquiais. No dia 25 de janeiro de 1992, dia da conversão de Paulo de Tarso no caminho de Damasco, foi dia escolhido por Cláudio Barradas, para a sua ordenação por D. Vicente Zico lá mesmo na Catedral, ou seja, há nove anos é sacerdote. Após algum tempo foi nomeado vigário auxiliar. No dia 2 de fevereiro de 1993, D. Zico o designou para a Paróquia de Santa Isabel de Portugal, onde realiza um trabalho pastoral, dos mais edificantes e maravilhosos.

Cláudio Barradas não perdeu tempo e logo no início montou uma equipe de teatro e de música. Suas missas são belíssimas e muito participativas. Tão contagiante é o seu trabalho que muitos crentes já se converteram à fé católica.

Eu estive lá e posso dar o meu testemunho.

Cláudio confessa que prefere estar junto ao povo humilde do interior, sentindo o cheiro de mato. “Essa gente é mais autêntica”. Todos os querem bem, não obstante o seu gênio explosivo...umas das suas características. Mas é inofensivo. É doce

Num artigo que escrevi na época – publicado pelo O Liberal, disse “Oxalá que as palavras de Melchisedeque o acompanhem para todo o sempre, e que ele possa, através das suas virtudes, com o seu valor com a sua inteligência, com o seu teatro e a humildade, trazer muitos servos para a Messe que tanto necessita.

Deu certo. Padre Cláudio Barradas cresceu no seu ministério sacerdotal. Tornou-se membro do Conselho Editorial do semanário Voz de Nazaré, onde nos brinda com um artigo escrito à sua a maneira em todas as edições; dirige com competência e acerto várias peças teatrais e de quebra ganhou um teatro com o seu nome.

\Inspiração de Deus - O arcebispo de Belém D. Alberto Taveira Correia, por inspiração do Alto o designou para pregar o Sermão das Três Horas da Agonia, ou Sermão das Sete Palavras, como dito atualmente, realizado há 138 anos e levado a todos pelo rádio, TV e satélite para a toda rede da Fundação Nazaré de Comunicação espalhada da pelo norte/nordeste do país.

No meu entendimento, desses últimos anos, a despeito da pregação dos sacerdotes George |enner Evangelista França e Raimundo Possidônio Carreira da Mata – atualmente Monsenhor, que inclusive mereceu citação de veículos de informação fora do Estado e aplausos da Câmara Municipal de Belém- o sermão de Cláudio Barradas foi o melhor e um dos mais lúcidos à luz da Fé Católica.

Como disse há nove anos , Deus e D. Alberto Ramos não o perderam de vista.

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