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1/13/2009

Dênis Cavalcante



Feliz Ano novo!

Janeiro 12, 2009

Mas um ano se passou, mais uma página virada. Para alguns, 2008 não deixou saudades. A verdade é que o cronista nunca deu muita importância a datas comemorativas. Aniversario, Natal, Ano Novo… Mais vale, melhor, bem melhor, ter, ver a família reunida em torno de uma mesa farta. Sempre acreditei que amor, felicidade, amizade se transmite por telepatia, um sorriso contido, uma nesga do olhar. Palavras, discursos elaborados, presentes caros, recepções pomposas são apenas acessórios, se esvaem como espuma na praia.
Para muitos, o Natal, o Réveillon e outros eventos desse tipo, são pretextos criados sabe se lá por quem, para se vender, reunir pessoas em banquetes pantagruélicos. Pensem nisso. Gosto, curto, mas não entendo – pessoas que passam semanas planejando nos mínimos detalhes uma festa efêmera, e depois que os fogos se apagam, o efeito do álcool se dissipa, se volatizam, voltam a ser os mesmos.
Meu final de ano foi legal. Como de costume, no Rio de Janeiro, junto à família, alguns amigos. Que bom seria ter o supremo dom da ubiqüidade, reservado somente aos deuses. Estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Abraçar todos os parentes, todos os amigos…
Quinze minutos antes do apagar das luzes de 2008, fomos para a praia de Copacabana assistir aos fogos. Duas garrafas de espumante, um ramo de flores… Na marquise ao lado do nosso prédio, uma figura conhecida. Um senhor aparentando 60, 70 anos – quem sabe? Ao contrário dos esmoleres de costume, não disse, não pediu nada. A turba ululante passava por ele (eu também) como se fosse um objeto inanimado. Um vaso, uma natureza morta, um poste. Observador, notei seu olhar carente, triste, perdido. Pensei com meus botões: para ele (e muitos outros excluídos) a virada do ano novo não tem nenhuma importância, não passa de um dia qualquer. Ele não tem mais família, amigos. Sua única preocupação é arrumar alimento e abrigo seguro para dormir. Meu Deus!
Deixei de lado minhas elucubrações, ao ouvir o estrondo dos primeiros rojões. Feliz Ano Novo! Beijos e abraços, saúde, paz, amor, felicidade… Tem coisa melhor? Findo os fogos, andamos na contramão da turba, pela Avenida Atlântica transbordante rumo ao apê do Juarez. O Pará em peso estava presente. Nane, Roberto, Abnader, Mario Sergio, Remor… Beberiquei uma coca bem gelada, tracei um bacalhau “de responsa”, filei um doce, abracei, fui abraçado. Lá pelas duas, tiramos o time. Já não sou o mesmo. Nem uma dose de malte sorvi!
Mofino, enfim chegamos à “Paula Freitas”. No mesmo lugar, apesar do burburinho do boteco ao pegado – imóvel - o sem-teto dormitava. Insensível, passei por ele do mesmo jeito que na ida. Interfonei para o porteiro, subi no elevador, entrei em casa. Tomei uma chuveirada, liguei o ar, tentei, em vão, dormir. Quem disse? A imagem dele não saía da minha mente. Abri a geladeira abarrotada de comida e mordisquei uma suculenta ameixa. Cheio de remorso, enchi um prato com pedaços de peru, leitão, arroz, farofa, tender… sobras da nababesca e saborosa ceia.
Desci. Para minha surpresa, estava desperto. Estendi-lhe o prato de comida, no que ele agradeceu com o olhar. Não proferiu uma palavra sequer. Dormi o sono dos justos. Como de costume, acordei com as galinhas. Escovei os dentes, vesti a bermuda, juntei uns trocados a fim de comprar o jornal e o pão.
Vocês não vão acreditar. Lá estava ele. Ao me ver, estendeu a mão enrugada e disse: Dois dias atrás, sua filha me deu uma quentinha. Ontem, foi o senhor. Deus lhe abençoe.
Feliz Ano Novo!

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