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10/18/2008

Dênis Cavalcante


Balanço eleitoral
'O eleitor, obrigatoriamente, tem que ser qualificado. O candidato, não.' (Max Nunes)

Em meados do ano passado, manifestei minha intenção em concorrer à vereança. Cabreiro, escrevinhei uma crônica, a fim de sondar minhas chances. Baseado nos inúmeros e-mails recebidos obtive um simulacro sobre minhas reais possibilidades. Fiz minhas contas e achei por bem abdicar. Como disse o vetusto Ulisses Guimarães – 'sou velho, mas não sou velhaco'. Mas o que mais pesou em minha decisão foi a opinião dos amigos – os de verdade - e os 'mui amigos'.
Agora, passado a ressaca eleitoral, posso revelar o que aprendi sobre os bastidores da política. Neófito, sondei raposas felpudas. Um deles (batido fragorosamente no pleito anterior) foi incisivo:
- Não conte com meu apoio, nem com meu voto. Estou fazendo campanha pro fulano. Não te mete!
Uau!
Um outro saiu pela tangente:
- Sacumé. Tu és muito velho, não tens posses, traquejo, jogo de cintura...
Como diria o menestrel Fábio Júnior – Brigadooo!
Um empresário 'buiado' também me desestimulou. Mas, Denis, vais precisar de muita grana... Posso te emprestar duduca. 'Emprestar duduca?' Pera lá! Isso não dá nem pro santinho. Um outro (após muitas doses no boteco) me propôs uma cabotinagem. 'Também sou candidato. Teu curral eleitoral é o mesmo que o meu. Meu candidato a prefeito tá nas cabeceiras. Já tenho perto de seis mil votos. Vai escrever que é tua praia. Quando eu tomar posse te garanto um DAS polpudo.
Tá, cheiroso...
Minha derradeira desdita aconteceu num convescote social. Um amigão (do peito) desdenhou minha candidatura dizendo:
- Sou cabo eleitoral de um senhor vereador. Tu não tens nenhuma chance. Ele se reelegerá com os dois pés nas costas. (Adoro o verbo empregado no futuro)
Vocês hão de convir, amáveis leitores, no jargão turfístico, o cronista era um pangaré, um temerário azarão concorrendo contra puros-sangues. Pensem bem. Quinze segundos no rádio e na tevê pra dizer que faria o possível para estimular a leitura, a cultura, a educação. Passou pela minha cabeça copiar o finado Enéas e urrar: Meu nome é Denis!
O mundo dá muitas voltas. Todos os candidatos acima citados gastaram o que tinham e o que não tinham e entraram (literalmente) pelo cano. O 'quase' eleito teve menos de 300 votos. O favoritíssimo à reeleição, nem na suplência ficou. Em janeiro, meu 'mui amigo' e sua trupe de aspones (assessores de porcaria nenhuma) estarão desempregados. Quanto mais um sujeito se acha importante, mais fácil tomar o seu lugar. Os candidatos apoiados pelo big-shot (aquele que me ofereceu uma merreca) tiveram a mesma sorte.
Deus escreve certo por linhas tortas. Contudo, toda regra tem exceção. Vejam só o caso do Vereador- Cobrador. Sem grana, sem experiência, foi eleito. Tomara que não entre no esquema.
As derrotas nos fazem aprender. Entre nós, Lula bateu na trave quatro vezes. Mitterrand, idem. Desculpem as elucubrações de um contumaz perdedor. Apesar de fragorosamente batidos, todos eles estavam certíssimos. Minha praia não é essa.
Às favas o salário, as benesses, os assessores a que os edis belenenses têm direito.
Não tô nem aí. Ou como disse o bardo Valéry - 'Les événements m’ennuient'. Os acontecimentos me entediam. Pra sair do tédio, ouço My Sweet Lord, enquanto dou os últimos retoques na janta da família. Feito isso, me aboletarei na rede e lerei o livro de memórias do Aurélio do Carmo.
No segundo turno, vou votar no Gabeira.

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