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10/06/2008

Dênis Cavalcante



Quem me conhece, sabe que aguardo ansioso, conto os meses, os dias para a chegada do terceiro evento literário do Brasil: a Feira Pan-Amazônica do Livro. Amo de paixão o burburinho, os estandes repletos de livros, os corredores congestionados, as palestras, os colóquios, a vinda de escritores renomados, a garotada ululante, tomando de roldão o Hangar, sequiosa de novidades, sedenta de conhecimento que só os livros podem proporcionar.
Este ano não foi diferente. Apesar da concorrência desleal da globalização, da Net, do Google e seu imediatismo, os livros (graças a Deus!) teimam em permanecer atualíssimos. A prova cabal do que vos digo é afluência maciça dos visitantes. Apesar dos pessimistas de plantão, dos secadores, das aves agourentas, no domingo passado mais de 35.000 pessoas passaram pelas catracas do Hangar. Graças ao evento, pude reencontrar meu amigo e confrade Pedro Roumié. Conhecer, trocar idéias com o notável e mordaz escritor ludovicense Joaquim Campelo, radicado há tempos em Brasília. Como disse o filosofo Rousseau: ‘o livro é e sempre será nosso melhor companheiro’ Ouso acrescentar: bibliotecas, livrarias e eventos dessa natureza, também. Afinal de contas, em que lugar o leitor anônimo tem a oportunidade de se deleitar, ver de perto, ouvir, debater com ícones da magnitude de Walcyr Monteiro, Nélida Piñon (a primeira mulher a presidir a ABL), Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna e Ariano Suassuna, um dos personagens da crônica de hoje.
E foi ele, sem saber, que me proporcionou momentos inolvidáveis numa segunda modorrenta, insossa, sem perspectivas. Após dois longos anos, reencontrei o mestre. Não mudou nada. Sorridente, esbanjando saúde, solícito, atencioso. Detentor de uma memória privilegiada. Como eu sei? Olhou pro meu crachá, (que estava virado) e disse: ‘Denis Cavalcante, o cicerone dos escritores que aqui aportam. Luís Fernando Veríssimo e Zuenir Ventura falaram de ti’. Tem coisa melhor?
Nos aboletamos no sofá e haja conversa. Fiquei surpreso ao saber que ele estudou (quase na mesma época) no mesmo local que meu velho pai – Colégio Americano Batista de Recife. Torceram pelo mesmo time, quiçá bateram pernas pelos mesmos corredores soturnos… A vida é cheia de coincidências. Junto a nós, sua mulher, Bela Josef e Bob Menezes. Vez em quando, éramos interrompidos pela tietagem explícita dos fãs, à cata de autógrafos, fotos, afagos. Impávido, ele atendeu a todos. De repente, não mais que de repente, meu tempo se esgotou. Era chegada a hora da palestra. Apalermado, procurei um lugar no auditório repleto – me ferrei! Paciência. Encostei meu corpo cansado numa das paredes e sorvi com sofreguidão suas pertinazes colocações, a verve inconteste, as tiradas impagáveis, a fina ironia…
Tudo que é bom dura pouco. Quando me dei conta, a palestra havia acabado. Enquanto esperava a turba ensandecida se dissolver, fiquei matutando. Qual o segredo desse homem? Amante inconteste dos livros, defensor ferrenho de nossa soberania, solitário cavaleiro a vergastar os corruptos, os poderosos, as injustiças? Quisera eu saber…
Despertei de minha catarse, ao vê-lo desaparecer pela porta entreaberta. Ficou a lembrança do sutil roçar de suas mãos calejadas, o olhar perscrutador, a conversa inteligente, a mente ágil. Sobretudo, o amor pelo Brasil, pela leitura, pela vida.

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