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8/02/2008

Dênis Cavalcante


Em casa que mulher manda...

Só quem conviveu ou convive com mais de uma mulher em casa entenderá meus lamentos. Desde que me entendo, minha vida é comandada por elas. Primeiro, minha mãe; depois a irmã; na seqüência, a mulher e, agora, pondo as “manguinhas” de fora, a filha.
Em nossa casa só existem dois exíguos compartimentos onde ainda tenho livre trânsito. Existe um terceiro, mas este, guardo para o final como trunfo. Um cantinho na sacada, onde escrevo todo final de tarde, e uma rede no quarto, onde passo lendo a maior parte do tempo. Somando tudo, minúsculos cinco metros quadrados. Os demais cômodos da casa pertencem a elas. Até a biblioteca, que em tese seria minha, tenho que pedir licença para freqüentar. Quando, desavisado, entreabro a porta para pegar algum livro, sou fuzilado por uma turba de olhos ferozes.
Mas isso é café pequeno quando o assunto é banheiro. Território único e exclusivo das mulheres. A bancada totalmente tomada por cremes, maquiagens, frascos de perfumes, de todas as matizes e cores. Pela manhã, tenho que dar uma de Mandrake para achar, em meio da parafernália, o creme dental e a escova de dentes. O único produto em comum que temos é o sabonete. Mesmo assim, no meio de uma chuveirada, procuro o dito cujo, quase sempre fora do alcance. Quando penso que é meu dia de sorte, uma batida surda na porta vaticina que o tempo se foi. E aí, sai de baixo! A mulher ou filha se apropriam do recinto, numa espera impossível de ser mensurada.
Computador, já até esqueci de sua existência. As duas se revezam em frente da tela numa exasperante e diabólica combinação. Só sou lembrado quando expira a tinta da impressora ou a máquina tem um “piripaque”. Aí, com voz macia, vem o pedido: - Paizinho, conserta pra gente? Em “nosso” quarto (que de nosso só tem o pronome), de meu, tirando quatro portas de um minúsculo armário, meia dúzia de livros, o nicho que abriga minha rede (segundo minha mulher, só atravanca o quarto), todo o resto do imenso latifúndio pertence a elas. Lá, quando estou ausente, a mulher e a filha vêem televisão, recebem massagens, escutam música nas alturas, conversam... Tudo com o refrigerado a mil! Meu parco vestuário (sobretudo as camisetas) é repartido entre elas sem aviso prévio. Será que só acontece comigo? Estou pensando em socializar o espaço aproveitando a filosofia do governo vigente, já que todos trabalham ou se encontram na Universidade. Tirando os míseros 3% que ocupo no imóvel, dividiria os 97% das taxas restantes entre elas. Tipo IPTU, luz, telefone (sempre atendo, nunca sendo pra mim), condomínio... Não é justo?
Com a vasta experiência acumulada no assunto, estou pensando em abrir um cursinho, uma espécie de MBA em matriarcado. Outrossim, não me considero o mais prejudicado. Imaginem casas como a do meu vizinho Alberto, ou a do Roberto, onde, em vez de duas, existem três, quatro manda-chuvas? Nessas horas me considero abençoado por Deus.
Antes da publicação desse desabafo, decidi levar um papo com elas tentando dar um basta na situação. Escolhi a dedo, um dia em que a TPM das duas estava em baixa, ameaçando tornar público minhas queixas. Por mais incrível que pareça, as meninas concordaram em reavaliar suas ações.
No dia seguinte, chego em casa abarrotado de compras. Aboletada na sala, a família assiste modorrenta à TV. - Quem vai me ajudar a guardar as compras?
Ninguém moveu uma palha.
Tudo bem, vou preparar um escalopinho com arroz à piemontesa! Enquanto fatiava a carne, deixando de molho os cogumelos, dourei uma cebola em azeite fervente. Não há quem resista ao cheiro de um refogado! Em dois tempos, estava tudo guardado. A partir de hoje, vai ser assim: na casa mandam as mulheres, mas na cozinha.
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● Livreiro, escritor, membro da Academia Paraense de Jornalismo

2 comentários:

ROSÁLIA CASTRO disse...

Nossa, adorei essa matéria, realmente EM CASA QUE TEM MULHERES SO ELAS MANDAM, rsrsrs. Mas é isso mesmo em todos os lugares é assim que funciona, abraços Feio.

Anônimo disse...

Que merda de texto. Vai escrever ruim assim na casa do caralho.

Paulo Brasil
Jornal A Semana de Icoaraci