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4/06/2008

DOM CICCILLO
Morre de infarto o maior grileiro da Amazônia

Brasília (5 de abril) – O empreiteiro Cecílio do Rego Almeida morreu de infarto aos 78 anos, dia 22 de março, em Curitiba. Deixou viúva Ângela Almeida e seis filhos do primeiro casamento, entre eles o deputado federal Marcelo Almeida. Filho de pernambucano e natural da cidade paraense de Óbidos, foi educado no Paraná, onde criou, nos Anos de Chumbo, o grupo CR Almeida, hoje, com patrimônio líquido de R$ 9,4 bilhões. Em 1992, Dom Ciccillo, como era chamado pelos que o conheciam bem de perto, apareceu na revista Forbes com patrimônio de US$ 1,3 bilhão. Foi o maior grileiro do mundo.
Grilou cerca de 6 milhões de hectares num santuário no Pará, a Terra do Meio, no vale do rio Xingu, município de Altamira, com reserva de US$ 7 bilhões em mogno, além de jazidas de ouro; o Aguirre grilou terras dos povos Araueté, Paracnã, Xipaia, Curuá e Caiapó-Baú-Mecranoti; a Floresta Nacional do Xingu; a Floresta Nacional de Altamira; dois assentamentos do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária); e área onde vivem cerca de 200 famílias de ribeirinhos e extrativistas - analfabetos e sem certidão de nascimento. Se fosse permitido a Dom Ciccillo criar um Estado particular, sua grilagem seria a décima-primeira maior unidade do país, área equivalente à Bélgica e Holanda juntas.
Em setembro de 2006, o jornalista Lúcio Flávio Pinto, editor do Jornal Pessoal, foi condenado pela Justiça paraense a pagar a Dom Cecílio R$ 8 mil, mais acréscimos, porque, em 2000, comentou reportagem de capa da revista Veja, que apontava Dom Cecílio como “o maior grileiro do mundo”. No Jornal Pessoal da segunda quinzena de setembro de 2006, Lúcio Flávio Pinto, na matéria intitulada “Chamar grileiro de pirata tornou-se crime no Pará”, relata que o julgamento do caso, pelo juiz Amílcar Guimarães, foi uma farsa.
Já em 1996, o jornalista paraense Oliveira Bastos, falecido, utilizou seu porrete, isto é, seu texto, para esmigalhar Lúcio Flávio Pinto. Ferino, brilhante e, às vezes, pena de aluguel, para utilizar adjetivos aplicados por Lúcio, Oliveira Bastos fora contratado por Dom Ceccillio para desqualificar Lúcio, o mais brilhante dos grandes jornalistas paraenses, nascido na Pérola do Tapajós, Santarém. Oliveira Bastos, por seu turno, foi um dos grandes jornalistas brasileiros, um dos criadores do Caderno B do Jornal do Brasil.
O jornalista que peitou Dom Ciccillio disse à revista Rolling Stone Brasil, de fevereiro de 2007: “Eu olhava para o Jornal Pessoal e pensava: sou maluco, estou me condenando à morte”. Contudo Lúcio, que continua vivo e cada vez mais lúcido, é duro de matar.
Ano passado, a Justiça, finalmente, tirou a venda e enxergou o óbvio ululante: Dom Ceccillio era mesmo o maior grileiro do mundo, e o obrigou a devolver o naco que usurpara da Terra do Meio.
O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), disse, em 1998, quando era senador: “Os empreiteiros morrem de medo dele, porque ele fala o que pensa. No fundo, ele é um sujeito que se arrepende do que faz. Mas faz e sem escrúpulos”.
Corpulento, voz tonitruante, cabelos inteiramente brancos, o que mais impressionava em Dom Cecílio era o olhar, descrito pelo jornalista João de Barros, na revista Caros Amigos de setembro de 2005, como “dois canos de uma carabina dupla pronta para disparar sobre o interlocutor”. Temperamental, era comum tratar os outros como “filhos da puta” ou “débil mental”. À Caros Amigos, disse que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, “foi uma péssima escolha; é uma indiazinha totalmente analfabeta e doente”.

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