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4/20/2007

Mais um conto de Luiz Lima Barreiros (3)


REENCONTRO NO LENNON BAR

À Lurdinha


A multidão festiva lotava grande parte da Avenida 1º de Dezembro, no bairro do Marco. Era o fim de tarde do dia 16 de fevereiro de 1984, ante vésperas do Carnaval. Nas proximidades do ginásio da Escola Superior de Educação Física, localizava-se o imenso palanque para o comício , lotado de políticos. Os oradores se revezavam entre bandeiras mil e os enfeites verde-amarelos. Diretas, já! Diretas, já! Diretas, já! Era o coro retumbante que pipocava por toda a nação. Jovens (de todas as idades) tomavam chopes no Lennon Bar. Desvencilhando-se da multidão, e por entre as mesas da calçada, Antônio entrava naquela festa.
Chegando-se, com certa ironia:
- Ôooooi!
- Ôi... (sentada, ela sorri surpresa)
- Você está só? (no mesmo ritmo)
- Estou. (com sua singelice matreira)
- Só mesma?
- Sim...
Senta-se, e diz, com certa lentidão aproximativa:
- E o que você faz aqui sozinha, meu anjo?
Olham-se. Sorriem-se. Continuam a se olhar. Ele retransmite a ela resquícios de mágoas. E ela também.
- Garçon! Traga uma , bem gelada... e dois novos copos!
- Eu preferiria um gin-fizz...
Acende um cigarro. Dá uma longa tragada, e depois espira. O restante da fumaça esvai-se, no rosto dela, por causa do vento que passou.
- Depois, você pede... e a gente toma.
Ouve-se um som do jazz “I Believe to My Soul”(Quero acreditar em minha alma), do Ray Charles.
- Mas, o que tens feito?- Ela indaga sorridente.
- Tudo ou nada...
- Quais as novidades, menino?
- As mesmas de sempre.
Ela ri. E ele sorri. O garçom serve-os, e pergunta se querem alguma coisa para tira-gosto.
- Estou com fome... quero jantar- Kátia diz com delicadeza.
- Bifes de fígado bem acebolados, como na última vez?
- Temos...- diz o garçon.
- Taí, então traga... e uma dose de corações também.
Ela sorri.
- Gostas do Ray Charles?
- E prefiro “Georgia on My Mind.”
- Belém está linda!
- Você também.
- Poxa, aquele teu telefonema!
- Você desligou o fone naquele dia... Quatro meses!
- Estavas uma fera, bicho!
Sorvem mais goles de cerveja.
- Como é, vais votar pra presidente?
- A primeira vez na vida... e como vai o cinema?
- Estou meio parado, mas, ando escrevendo...
- Vamos?

Saem, e entram em outro bar. Diretas, já! Diretas, já! Diretas, já! Uma alegria contagiante no ambiente.
- O que não deu certo, menino? Sei lá, também fiquei confusa.
- E não é? A gente não soube se amar...


(Menção honrosa no I Concurso Literário da FUNTELPA,1986)

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