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2/10/2007



TRISTES TRÓPICOS
De uma forma ou de outra, vamos perder a Amazônia

Brasília – Estamos fadados a perder a Amazônia, seja para mudanças climáticas cíclicas no planeta; seja em conseqüência da poluição planetária, principalmente nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e na China; seja para os Estados Unidos, pois que o Trópico Úmido é a região mais rica da Terra, de longe; seja para a Organização das Nações Unidas (ONU) – leiam-se Estados Unidos e Inglaterra -, que, como está comprovado, a Grande Floresta funciona como um refrigerador planetário.
A Grande Floresta vem sendo torada, desde a década de setenta do século passado, em cerca de 100 mil quilômetros quadrados por governo, isto é, de quatro em quatro anos. No sertão, vige a lei da bala e escravidão é comum.
O número de fiscais do pomposo Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (Ibama), responsável pela fiscalização do cumprimento da lei na floresta, é ridículo. Árvores centenárias, madeira de lei valiosa como ouro, são traficadas para a Europa, Estados Unidos e São Paulo. De vez em quando se descobre corrupção dentro do Ibama. Obras como as eclusas de Tucuruí, a Hidrovia do Marajó, a Hidrelétrica de Balbina, são procrastinadas ad infinitu. Essas obras, e políticas sociais, levarão ao desenvolvimento da Amazônia.
O Trópico Úmido só experimentou desenvolvimento verdadeiro nos governos de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek, quando foram criadas instituições como o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), sediado em Belém; e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), sediado em Manaus.
Nesse período, também, houve a redivisão territorial do continente amazônico, com a criação dos estados de Rondônia, desmembrado de Mato Grosso; Roraima, desmembrado do Amazonas; e Amapá, desmembrado do Pará. Ligou-se, ainda, embora equivocadamente, a Amazônia ao Sudeste, via Belém-Brasília, que deveria ser uma ferrovia.

Aí, abateu-se sobre o país o golpe militar de 1964, que, tragicamente, durou duas décadas e um ano. Nesse período, sangrou-se a floresta para construir-se rodovias a um custo louco e tentou-se povoar a Amazônia jogando-se sulistas e sudestinos na mata. Morriam como peixe nos rios poluídos das suas regiões de origem, vítimas dos inúmeros e peçonhentos mosquitos que infestam o Inferno Verde, sem ter para onde correr.
Veio José Sarney. Um desastre completo. O senador maranhense foi substituído por Fernando Collor de Melo, hoje, senador. Collor foi apeado do poder – seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, estava saqueando o erário - e foi sucedido pelo seu vice, Itamar Franco. E aí veio Fernando Henrique Cardoso, que não liderou a implementação de reformas fundamentais para o país. Assim, tudo ficou como dantes no quartel de Abrantes.
Então, veio Lula. Uma tragédia em andamento. Enquanto ele se concentra no seu despautério verbal, companheiros seus se concentram nos seus projetos pessoais, como já ficou comprovado no Ministério Público. A Amazônia de Lula? É só falácia.
Mas a grande responsável pela desdita da Amazônia é sua elite. Sai governadores, entram governadores, a pilhagem é a mesma. Os governadores que entram divulgam o rombo dos seus antecessores, nepotismo, superfaturamento, contratos espúrios, mentiras em estado puro. Os parlamentares vivem, quase sempre, preocupados em manter seus currais eleitorais, custe o que custar, com mordomia e em roubalheira pura e simples. E o empresariado engorda, constrói mansões, empoleira-se em apartamentos-mansões, anda, nas ruas esburacadas, em Mercedes. Nos miseráveis, mandam as polícias meter bala em quem sair dos guetos, pocilgas erguidas sobre os esgotos das metrópoles amazônicas. A poucos ocorre colaborar com as escolas públicas e universidades.
Milhões de amazônidas, principalmente citadinos, vêem-se a si mesmos sob a lente do colonizador, sob o ponto de vista do paulistano, do carioca, do europeu, e não na ótica da sua cultura, a cultura amazônida, a cultura do caboclo. Um exemplo: a Universidade Federal do Amapá (Unifap) oferece curso de Direito, mas não oferece curso de Oceanografia. As costas do Amapá são as mais ricas do mundo em frutos do mar, mas o peixe consumido em Macapá é, geralmente, do Pará ou do Amazonas, quando não é do Rio de Janeiro, ou até mesmo do Chile - enlatado.
A solução para o Brasil seria uma revolução, como a francesa, em 1789. Mas isso é utopia na geopolítica de 2007. Então, só resta os parlamentares amazônidas que detêm verdadeira liderança fundarem, seja como for, um congresso amazônico permanente, legítimo, pois a Amazônia é um país mesmo.

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