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6/07/2006

Alfredo Ramos, por ele mesmo


Nasci em Belém, em agosto de 1941. Estudei no Colégio do Carmo, primeiro como interno, depois fui “promovido” por bom comportamento para o externato.Fiz parte junto com Manoel Pompeu Filho e José Bonifácio Antunes Monteiro, do triunvirato que dirigiu o Grêmio Recreativo Domingos Sávio na tentativa de soerguê-lo. Mas o que se viu na pratica é que seus dias ficaram piores e quase foi fechado pelos diretores do Colégio principalmente quando eu tentei meter as mãos pelos pés e tentar “dirigir” o Grêmio.
O primeiro contato com um político de porte foi com então governador do Estado, Magalhães Barata. Fui até o Palácio pedir seu apoio para a reforma de nossa quadra de esportes. Barata garantiu que daria total apoio. Esperei 30 dias e nada da reforma começar, então mesmo sendo advertido pelo diretor do Colégio, Pe. Belchior Maya d´Atayde, mandei quebrar a quadra, na esperança que viesse a provocar uma “revolução” estudantil, contra o governo - veja só que criancice! Nada aconteceu, a não ser minha expulsão do Colégio.
Manoel Pompeu era um grande líder estudantil. Um revolucionário dos bons. Foi um dos lideres e idealizador da Liga Camponesa do Pará. Fiz parte, ou melhor, me colocaram nela, mas nunca me envolvi no movimento, mesmo porque queriam que fosse panfletar e distribuir nos confins do Judas (interior do Pará) armas para os colonos em nome do suposto movimento comunista do Leonel Brizola e Jango Goulart. Na realidade eu não estava nem um pouco preocupado com esse movimento de esquerda. Minha preocupação era outra, a de adolescente da era James Dean, descobrindo o mundo na base da rebeldia e nas grandes farras.
Nunca fui um bom estudante. Fui expulso de todos os colégios de Belém. Carmo, Paes de Carvalho, Moderno, Abraão Levy e até do único colégio que jamais ousara expulsar o pior aluno, o Para Amazonas. Credo! Por conta disso, o Nazaré não quis nem saber de minha matricula. Pior pra eles. Nunca gostei dos Marianos mesmo. Sempre fui um Salesiano.
Quando estudava no Carmo tinha um jornalzinho editado pelo Waldir Sarubby de Medeiros. O Clarim. Poesia pura. Mas eu lia O Clarim, o que era editado na Argentina, que meu pai assinava. Sarubby nasceu poeta como o João de Jesus Paes Loureiro que também escrevia suas poesias no manuscrito deste. Eu, sempre fui um semi-analfabeto. Não estudava e ainda queria ser jornalista. Lancei então um jornaleco manuscrito concorrente: o Sem Rival. Fez sucesso principalmente por só falar o que não devia. Era o Pasquim piorado da época. Tinha as minhas “vitimas” preferidas. Lembro do Pe. Bertoldo, que lecionava francês e o chamava de Padre Bicudo, ou melhor, Padre Bicudô, com direito a bico e tudo. Encarnei tanto no coitado que ele entrou em depressão e deixou de lecionar. Pura maldade juvenil.
Tempos depois fui me “oferecer” a aprendiz de jornalista. Bati n’A Província do Pará. Deram-me uma mesa e uma cadeira – como se eu fosse gente - e, a incumbência, pior ainda - de cobrir a Câmara Municipal. Dureza para quem não sabia nem o que era mesmo um jornal. Fui a Câmara e sentei numa mesa de fundo, onde os jornalistas faziam a cobertura das sessões. Não entendi patavina que os vereadores falavam. Tudo grego, como, aliás, é o modo deles falarem. Resultado - mandei um projeto de matéria mal escrita e que falava não dos vereadores, mas das atividades na zona do meretrício de Belém. Nem tinha começado e já fora despedido com um simples recado: “Vá trabalhar na Tribuna do Pará. Lá é que é lugar de terrorista e comunista” Acho mesmo que o certo seria: Vai trabalhar, vagabundo.
Certo. Comecei na Tribuna do Pará. Tudo o que escrevia ninguém lia, nem os editores. Deveria ser uma bela porcaria mesmo. Mas me deram uma carteirinha de repórter amador. Quando peguei a carteira só deu tempo de descer as escadas da redação e dar de cara com o Exercito na esquina. Cercaram e invadiram a Tribuna. Prenderam todo mundo, menos eu que dei sorte de sair antes deles chegarem. Vim parar em São Paulo, via Paraense Transportes Aéreos, a primeira e única empresa aérea que você embarcava com pára-quedas nas costas e mais com a certeza que a Revolução de 64 não me pegaria nunca. Quem iria fugir da Revolução viajando pela PTA?
São Paulo - Não vim corrido e nem perseguido; afinal a Revolução de 64 não tinha nada haver comigo. Não era comunista, político e muito menos anarquista, embora tivesse cara. Era sim, merengueiro dos bons.
Em São Paulo morei na Pensão dos Aeroviários, em frente ao Aeroporto de Congonhas. Na lanchonete tomava café e nas horas de folga fazia o que todos os paulistanos caretas faziam. Olhava o sem fim das aeronaves descerem e subirem. Seis meses de frio e saudades de Belém. Voltei.
Apesar de pouco emprego em Belém, nunca fiquei desempregado. Cheguei a ter três empregos, acreditem, de uma só vez. Na Booths Line, era Office-boy. Escondido, fazia coleta de dados cadastrais de futuros clientes para a White Martins. O tempo que sobrava, depois das cinco da tarde, andava como louco de "Vespa", vendendo porta a porta sabão para uma fábrica que fazia o famoso Sabão Pintax.
Se fui um grande vendedor não foi por que eu queria. Fato é que certo dia “camelando” por uma certa rua tentava fazer minhas vendas. Entrei num grande prédio e vendi dez caixas de sabão. Grande venda. O comprador foi a Perfumaria Phebo.
“Então, disse o dono da Sabão Pintax, você é o tal que conseguiu vender sabão para uma fábrica de sabão?”. Mereci destaque e a consideração da empresa. Mas no fundo, hoje, quando me lembro disso, da até vontade de chorar.
Mas não foi só sucesso, não. Tempo depois as vendas do sabão caíram assustadoramente. Tentando vender sabão para um portuga dono de um empório, ele me disse que não comprava sabão Pintax por nada neste mundo, pois tinha acabado a promoção na TV e não queria ficar mais com tanto sabão encalhado.
- Certo. Não compra mesmo não. Já estou cansado de tentar vender essa porcaria que só tem sebo e não limpa p... nenhuma – disse irritado.
O portuga era o tio do dono da fabrica de sabão. Fui despachado com o seguinte recado: “Paga o Alfredo e dá uma caixa de Sabão Pintax para ele lamber”.
Mas na Booth Line a vida era mansa. Certo dia me incumbiram de ir até o cais do porto e fazer chegar até o escritório da empresa, uns marinheiros que desembarcavam de um vapor vindo da Inglaterra.
Contato feito. “ Do you speek english?
Os caras riram tanto que quase cairam do bote que estavam. Inconformado com as risadas dos ingleses mandei essa:
“Seus sun of beech viados. Vão pra pqp. Não vou levar ninguém pro o escritório”.
Na Booth depois dei de cara com os ditos marujos. Um deles era português e não tinha ficado nada satisfeito por tê-lo xingado e quando me viu ameaçou sair correndo atrás de mim.
Trabalhava numa fabrica de colchões que na época inovou com crina de coco. Um sucesso, Não sei por quanto tempo durou. Mas, tempo depois, bancos de carros vieram a ser fabricado com esse material.
Em Belém estava preste a ser dado o pontapé para a formação de uma sociedade que deveria inaugurar a primeira cervejaria da amazônia, a Cerpa. O dono da fabrica de colchões, Erichsen era o idealizador. Como trabalhava no escritório me mandaram, pela minha boa letra, passar para o livro, a ata de fundação da cervejaria. Lá está a ata, toda com minha caligrafia.
A secretária me convidou para uma festa de formatura. Fui.
Na festa todos bebiam e dançavam. Uma “mina” de vestido vermelho, não. Mas ninguém conseguia convencer a mocinha a dançar. Olhei e disse: Comigo ela dança. Dançou. Ela era paraense, mas tinha sido criada desde bebê em São Paulo. Seu pai era piloto da Rea Aerovias. Estava em Belém pela primeira vez. De férias
Namorei. Ela voltou a São Paulo, e eu fiquei ligado. Por uma dessas coisas que acontece ela morava duas quadras atrás da Pensão dos Aeroviários, onde então tinha morado, quando da minha primeira e curta passagem de seis meses pela terra da garoa. Ela trabalhava na lanchonete do aeroporto, onde sempre tomava café. Mas não a conheci lá e nunca a vira, ou se vira e nem prestara atenção. Em Belém, sim, prestei melhor atenção, tanto que acabei voltando para São Paulo e casando com a princesa Célia – irmã do redator deste blog. Talvez por isso tenha mais espaço.
Casado, mudei pra melhor. Tentei estudar, mas sempre não fui bom nisso. Também pudera, trabalhava em três turnos alternados. Quando estudava de manhã, trabalhava à tarde. Quando trabalhava à tarde estudava a noite. Quando trabalhava de noite, dormia de manhã. O estudo acabou.
Quem casa quer casa. Comprei uma na periferia, em Interlagos, achando que tinha feito um grande negócio. Um pesadelo. Não se podia abrir a boca que os pernilongos caiam matando. Luz, nem pensar. Água só de poço. Ônibus a léguas de distancia. Para completar, para atravessar a represa, só de barco, feito de caixotes de madeira. Valia quase uma passagem de ônibus com direito a ficar com os sapatos molhados.
Quando minha esposa viu a casa, desmaiou. Acostumada a todo conforto de classe média, morando numa bela casa na Alameda dos Guainumbis, em Indianópolis, o desmaio foi pouco. Pior quando chegou a noite e tinha esquecido de comprar um lampião. Ela me perguntou: Onde ascende a luz? Que luz, respondi, aqui não tem luz.
- Meu Deus! E caiu dura no chão!
Dei uma de político. Prometi e prometi bastante até acalmá-la. “Antes que meus filhos cresçam, você terá luz elétrica, água encanada, esgoto, telefone, rua asfaltada, escola e ônibus na porta de casa e se duvidar até um posto de saúde”.
-Eu quero é ir pra casa de minha mãe!
Mas promessa feita é promessa a ser paga. Cumpri todos os itens acima, um a um, menos o posto de saúde.
Hoje ela não quer mudar donde mora. Tem tudo aqui.
A luta não foi fácil para conseguir tudo o que tinha prometido. Fundei uma sociedade de amigos do bairro onde fui presidente por dez anos até acabar com minha sina. Fundei outras tantas sociedades e até uma federação de futebol de várzea, em Santo Amaro.
No Palácio do Governo, num jantar com Maluf, diversos lideres de bairros de toda Zona Sul estavam se acertando. Marin era seu vice e queria me lançar candidato a vereador. O custo era alto demais e não tinha como bancar a empreitada e o risco. Acabei não topando a parada. Nunca mais quis saber de política. Teria valido a pena?
Tornei-me empresário. Tive algum sucesso, mas tomei dois canos seguidos do governo e fali bonito. Um por conta do maluco do Collor confiscando minha poupança e, por tabela, arruinando o mercado de construção civil, meu ramo de negócio de elétrica. E quando estava voltando ao normal, por conta da prefeita Erundina que não pagou as obras que tinha feito, tanto de elétrica como de hidráulica, em dezenas de escolas e creches publicas que ela tinha contratado. Naquela época Erundina era o piolho de Lula. Só inventava!
Mas não morri de fome. Mudei de atividade e passei a trabalhar como terceirizado no ramo de telecomunicações. Enfartei, quase morri duas vezes, sobrevivi e hoje, estou aqui, contando essa história.
Como aposentado, dizem não tem nada o que fazer, arranjei um divertimento, que acabou virando quase uma obrigação. Criei a Fiel Bicolor em São Paulo. Não me recordo se já existia esse nome em Belém. Fiel sim. Hoje o site é que sobrevive, pois de Fiel Bicolor em Sampa, só tem cara duro. Não faz sentido uma torcida organizada aqui. Em Belém sim, mas lá tem a Terror que quase expurgada adotou também o nome de Terror Fiel Bicolor.
É isso ai, gente. Essa é minha história. Do que escrevi aproveitem duas linhas e as demais mandem pro brejo. Ainda tem brejo seco em Belém? E a Matinha? Lá, sim, tinha perereca a dá com rôdo.
___________

Esse aí é o meu cunhado. É o homem que promove este blog em Sampa. (A.F.)

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Feio , um pé redondo seu admirador, quer parabenizá-lo pelo blog, todavia , quero fazer um comentário a respeito dos seus postes que sempre são muito grandes. Para nós muito ocupados, é dose ler tudo isso. Conselho amigo , faça sempre postes pequenos e com grande qualidade. Você melhor que ninguém sabe fazer isso.

Anônimo disse...

Quero aqui deixar o meu abraço especial a esta pessoa tão querida que desde muito cedo aprendi a gostar e a respeitar.Estas recordações as guardo muito bem em minha memória ,já que vc começou a fazer parte de minha vida muito cedo.Sinto um orgulho imenso de poder ter vc como parte de meu círculo de amigos.FELIZ ANIVERSÁRIO...
Muita LUZ sempre em seus caminhos iluminando sempre sua vida.Receba meu abraço querido Feio.
Beijocas

Iolanda Brazão